quarta-feira, 12 de novembro de 2008

E vamos nós ... Vejam esta lição de vida.

Nascido em um dia azul - por Daniel Tammet

Título : Nascido Em Um Dia Azul
Título Original : Born on a blue day
Subtítulo : Vencendo o autismo
Autor : Daniel Tammet
Tradução : Fabio Takashi
Editora : Intrinseca
Assunto : Biografias, Diarios, Memorias & Correspondencias
ISBN : 9788598078274
Idioma : Brasileiro [ONU, '95 - 2005]
Tipo de Capa : BROCHURA
Edição : 1
No. de Páginas : 192
Comentários : pode ser que que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.

Essa é a história de Daniel Tammet: autista, gênio da matemática, recordista na aprendizagem de idiomas estrangeiros e uma das chaves para entendermos o funcionamento do cérebro humano.
Esse livro de memórias, que revela a maneira de pensar de um autista fenomenal, conquistou o 2º lugar na lista de mais vendidos do The New York Times. Daniel Tammet é considerado por cientistas uma das chaves para compreender o funcionamento da mente. Gênio da matemática, campeão de xadrez e recordista na aprendizagem de idiomas, esse inglês de 27 anos é capaz de aprender línguas estrangeiras em uma semana, ou de memorizar e recitar 22.514 casas decimais do número pi diante de uma platéia de acadêmicos, em Oxford.
Mas em Nascido em um dia azul o autor relembra sua confusa e dolorosa infância, quando se sentia isolado e limitado pela incapacidade social que marca pessoas como ele ? um portador da síndrome de savant e da síndrome de Asperger. Crianças com esses distúrbios têm dificuldades de relacionamento, de compreender frases ou piadas de duplo sentido, de captar nuances emocionais do comportamento humano, ou de dirigir automóveis.
Apesar dessas limitações, ele se tornou professor de línguas estrangeiras, é atração de programas de televisão e de universidades com suas habilidades singulares para fazer cálculos com velocidade, graças à forma especial como consegue lidar com números. Assim como o personagem de Dustin Hoffman no filme Rain Man, Daniel dá lições de superação, engajamento social e afetivo, raras para um jovem nas suas condições.
Acredita-se que seu desenvolvimento tenha sido facilitado pelo estímulo recebido no relacionamento com seus oito irmãos e com pais amorosos e tranquilizadores. O fato é que o fenômeno do cérebro de Daniel é hoje pesquisado pelo neurocientista V.S. Ramachandran, diretor do Centro do Cérebro, na Universidade da Califórnia. Sua vida, narrada neste relato pleno de poesia e entusiasmo, se tornou tema do documentário The Boy with the Incredible Brain, destaque na televisão britânica. É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.
Uma cigarra na paisagem: nascido num dia azul: "Daniel Tammet nasceu em Londres a 31 de Janeiro de 1979. Uma quarta-feira. E todas as quartas-feiras são, para Daniel, azuis. Daniel gosta da data do seu nascimento, porque é constituída pelos números mais belos: os números primos - 31, 19, 197, 97, 70, 1979 - apenas divisíveis, em resto 0, por 1 e por si próprios. Daniel vê estes números como seixos numa praia, todos diferentes - e é assim que os reconhece.
Muitos seixos juntos acabam por pintar uma paisagem única, de formas, texturas e cores. E foi assim que Daniel conseguiu decorar, visualizando, a maior sequência do número Pi dita por um ser humano. Pi - a razão do perímetro de uma circunferência em relação ao seu diâmetro - parece ser infinito, e esse facto torna-o num mistério e num desafio para a comunidade científica. Daniel esteve em Oxford, a debitar, para juízes e audiência, durante cinco horas e nove minutos, uma sequência de 22.514 dígitos de Pi sem nenhum erro.
Daniel Tammet cumpriu este desafio para chamar a atenção e angariar fundos para o acompanhento e investigação do autismo." 10/01/2008 - 08h44
Genial em cálculos, inglês teve de vencer barreiras do autismoAMARÍLIS LAGE da Folha de S.Paulo
À primeira vista, o inglês Daniel Tammet, 28, parece um jovem comum. É fã dos Beatles, gosta de viajar e de namorar, tem uma escola de idiomas que garante sua independência financeira e sabe cozinhar. Mas Daniel não é comum. E o que o torna extraordinário é justamente a capacidade de realizar todas essas atividades, aparentemente simples. Daniel é autista e tem a rara síndrome de savant, um distúrbio psíquico que confere a seus portadores memória prodigiosa e genialidade em cálculos, mas que, geralmente, os condena a uma incapacidade de interagir com os outros.
O caso mais famoso da síndrome é o do norte-americano Kim Peek, que inspirou o personagem Raymond Babbit, interpretado por Dustin Hoffman no filme "Rain Man" (1988). Assim como a maioria dos savants, Kim também tem autismo. Ele aprendeu a ler aos 16 meses de idade e consegue ler duas páginas de um livro simultaneamente, retendo quase 100% das informações --memorizou todo o conteúdo de mais de 9.000 livros.
Aos 56 anos, porém, ele depende dos cuidados do pai em tempo integral para sobreviver.
Daniel, inexplicavelmente, conseguiu superar essas barreiras. Sua independência e sua capacidade de comunicação o transformaram em um valioso "dicionário" da síndrome de savant para neurocientistas. Se os savants fazem cálculos complexos em segundos, Daniel vai além e explica como consegue fazer isso.
Cada número, diz, corresponde, em sua mente, a uma cor, textura, formato ou sentimento: o número um, por exemplo, é como um feixe de luz, já o cinco tem som de trovoada --reação conhecida como sinestesia. Ao fazer uma conta, essas cores e sons se misturam, e o resultado aparece diante de seus olhos, como uma nova imagem.
O mecanismo também o ajuda a decorar informações longas: é dele, por exemplo, o recorde europeu de memorização do pi --um número que corresponde à divisão da circunferência pelo diâmetro de um círculo. O pi começa com 3,1416 e segue infinitamente. Em março de 2004, Daniel passou cinco horas e nove minutos recitando o número: foram 22.514 dígitos, acompanhados por jurados que conferiam a seqüência correta em centenas de páginas de papel.
Para o jovem savant, a tarefa equivalia a se lembrar de uma paisagem: só que, em vez de árvores, casas e riachos, ele via algarismos.
Após a proeza, veio a fama. Um canal de televisão inglês realizou um documentário sobre sua vida ("The Boy with the Incredible Brain" --o garoto com o cérebro incrível), e Daniel resolveu contar suas experiências em um livro: "Nascido em um Dia Azul", que acaba de ser lançado no Brasil.
"Escrever o livro foi terapêutico", disse Daniel à Folha, por telefone, de sua casa em Kent, no sudeste da Inglaterra. "Isso realmente me ajudou a ter uma melhor compreensão de quem sou, da vida que tenho, da jornada que fiz. O diagnóstico da síndrome de Asperger [um tipo de autismo] não foi feito até 2004 porque, quando eu era criança, não estava disponível. Escrevi o livro um ano depois e isso me ajudou a colocar minha vida numa perspectiva, num contexto."
Sua voz é suave e ele se mostra gentil e amigável durante a entrevista. Estabelecer uma conversa com desconhecidos, porém, foi algo extremamente difícil para ele ao longo de muitos anos. Daniel foi uma criança quieta e sem amigos.
Na escola, passava o recreio sozinho, contando as pedras no chão ou fazendo contas. Não se interessava por outras crianças e, quando elas zombavam dele, apenas tapava os ouvidos e tentava pensar em números que evocassem imagens bonitas.
Foi na adolescência que ele começou a sentir necessidade de se relacionar com os outros. Mas essa interação lhe parecia muito complexa: as pessoas eram imprevisíveis demais para um garoto que buscava lógica e padrões matemáticos em tudo.
Numa conversa, podiam mudar de assunto de uma hora para a outra e esperavam que ele entendesse coisas que não eram ditas claramente. Isso o deixava inseguro e frustrado.
"Pessoas com autismo acham importante ter rotina, segurança, estabilidade. O mundo é hiperestimulante porque tem tanta gente, tanto barulho, tanta informação... Autistas têm mais dificuldade para lidar com isso. A rotina deixa tudo mais fácil. Por isso, tento tomar o mesmo café da manhã todos os dias. É um pequeno ritual que me faz sentir seguro", conta ele, que come exatamente 45 gramas de mingau todas as manhãs. E usa uma balança eletrônica para ter certeza disso. Para enfrentar essas limitações, Daniel --que, quando bebê, chorava se o pai mudasse o caminho para a creche-- resolveu se mudar para a Lituânia, na Europa báltica, onde trabalhou por um ano como professor voluntário de inglês. Além de aprender a lidar com situações imprevistas, ele descobriu mais uma aptidão: a facilidade para idiomas. Para Daniel, os sons também evocam cores e sensações (as palavras que começam com "t" são laranjas, por exemplo), e isso o ajudou a aprender dez línguas de forma autodidata.
Divisor de águas A viagem à Lituânia, diz Daniel, foi um "divisor de águas", que o preparou para o que veio depois. "O documentário e o livro mudaram minha vida. Ninguém imaginava quão bem-sucedidos eles seriam. Tenho tido a oportunidade de viajar muito. Há poucos anos, consideraria isso inimaginável. Mas tenho crescido muito em autoconfiança. Recentemente dei uma série de palestras nos EUA onde havia milhares de pessoas. E, ainda assim, não foi difícil ficar em pé e falar, pois adoro compartilhar minha história."
Daniel atribui o sucesso do livro, já traduzido para 16 idiomas, ao fato de muitas pessoas, mesmo sem autismo, compartilharem com ele essa sensação de deslocamento em suas comunidades. "Elas se identificam. São, de alguma forma, diferentes de outras pessoas, com dificuldade para aprender qual é seu lugar no mundo. Meu livro parece significar algo para essas pessoas", diz ele, que agora se dedica ao seu segundo livro, sobre inteligência, memória e aprendizagem.
Além da carreira, a vida pessoal também vai muito bem, obrigado. Há alguns anos, Daniel mora com o companheiro, Neil --"que é bonito como o número 11". E como lidar com algo tão imprevisível e fora de padrões lógicos ?
"O amor era uma grande questão para mim. Eu não era capaz nem de pensar sobre esse tema quando era adolescente --lia tudo que podia sobre isso. Uma coisa que me ajudou foram os contos de fadas, todos com lindas idéias sobre relacionamento, sobre como alguém pode se sentir confortável onde vive. Por meio dessas histórias, eu gradualmente me tornava hábil para entender o amor."
A resposta da equação, descobriu, era a aceitação. "Grande parte da nossa vida está fora de controle. Eu não escolhi ser autista, assim como não escolhi ser inglês. Então, eu tive de aprender como ser eu mesmo. E amar é uma parte importante disso, pois é sobre aceitação. Aceitação do outro e de si mesmo, assim como do mundo. Quando você aceita o mundo, você pode amá-lo, quando aceita as pessoas, pode amá-las. E, quando você se aceita, pode se amar também."
Pergunto o que ele faria se descobrissem uma cura para o autismo. Ele fica em silêncio por alguns instantes. "Acho que depende do tipo do autismo. Alguns autistas são como eu, capazes de ter um relacionamento, uma carreira. Mas há formas muito mais severas, que não permitem ter uma vida normal. Eu certamente espero que cientistas encontrem um modo de tratar essas formas de autismo, para que essas pessoas possam falar, ter amigos e ter a oportunidade de aceitar a si mesmas e ao mundo em volta delas. Meu autismo eu aprendi a aceitar. Se eu mudá-lo, mudarei a mim mesmo. E eu sou muito feliz. Eu gosto de mim."
Veja o link em http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u361929.shtml
"Born on a blue day ": Comprei este livro no início de 2007, logo que o vi. Há vários anos tenho grande interesse pela sinestesia, fenômeno que tem sido estudado por Cytowic. O autor dessa autobiografia precoce, Daniel Tammet, foi diagnosticado já adulto como portador de Síndrome de Asperger: é savant para cálculos e aprendizado de línguas, e apresenta sinestesia de maneira impressionante. Numa entrevista dada ao caderno Equilíbrio, da Folha de São Paulo de 10/01/08, ele conta que é muito procurado por pessoas comuns, mas que se identificaram com ele em seu relato da infância e das experiências de excliusão na escola. Para Tammet, isso significa que ele conseguiu tocar as pessoas em aspectos comuns a todos, ou a quase todos... Acho que isso também aconteceu no filme dirigido por Jodie Foster, sobre um menino superdotado e suas vicissitudes. Vários amigos já confessaram terem se emocionado muito com o filme, identificando-se com o protagonista. Isso parece ter ocorrido não somente por desenvolver o tema com grande sensibilidade, como também por tocar nos temas da solidão na infância, da exclusão e do sofrimento/desamparo.
Tanto o livro como o filme descrevem situações em família em que as crianças se sentem, e são efetivamente muito amadas por seus pais ( e seus irmãos, como no livro) . Não se trata, portanto, de abandono. Atenua o desamparo - o que já é muito - mas este e o sentimento de solidão ( como mostra Melanie Klein, num trabalho atualmente pouco citado) permanecem. Freud estava certo, então, ao falar de desamparo no Mal Estar na Civilização e n' O Futuro de uma Ilusão.
Pegando carona em Frances Tustin e Thomas Ogden, então, poderíamos pensar que o autismo como posição subjetiva ( como propõe Ogden) faz parte do espectro humano... É claro que não falo aqui do transtorno do desenvolvimento infantil catalogado na DSM; as explicações psicanalíticas de Tustin e de outros para o autismo são atualmente lamentáveis, indo de encontro a tudo que se tem pesquisado nos últimos anos.
Dentro do próprio espectro autista, existem desde os de alto desempenho, como o pianista Glenn Gould, a bióloga Temple Grandin, e Daniel Tammet, e aqueles que têm o autismo infantil clássico, que pode ser devastador. Oliver Sacks, em "Um antropólogo em Marte" , diz:
Se a síndrome de Asperger é radicalmente diferente do autismo infantil clássico ( numa criança de três anos, todas as formas de autismo podem parecer as mesmas), ou se há uma continuidade entre os casos mais graves de autismo infantil (acompanhados, talvez, por retardo mental e vários problemas neurológicos)e os indivíduos mais dotados e com altos desempenhos, ainda é motivo de discussão. (...) Também não está claro se essa continuidade deveria ser estendida para incluir a posse de "traços autistas" isolados - preocupações e fixações intensas e peculiares, em geral associadas a uma relativa distância e recuo social - , como como se percebe em uma quantidade de pessoas convencionalmente chamadas de "normais" ou vistas, no máximo, como um pouco estranhas, excêntricas, pedantes ou reclusas. (pag. 256)
A psicanálise apresenta o desamparo como registro psíquico inescapável, podendo ser atenuado ou acirrado por circunstâncias de vida e de temperamento difíceis. Desse ponto de vista, podemos pensar que essas diferenças pessoais não precisariam ser catalogadas como num espectro autista, e sim num espectro humano... Afinal de contas, a diversidade intra-espécie, como explica a teoria da seleção natural, é fundamental para a sobrevivência da espécie - no caso, a espécie homo sapiens sapiens.

Nenhum comentário: